segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

On my way home

I feel that I have been traveling for quite some time now. When I was having my last days in Bolivia, I was happy to head home for the holidays. I was happy to have good coffee again, good food, rest at my parents' home... But then I was also happy to get a car and hit the road. To come to the beach. To work at a meeting of the vanguard of the peasantry in Brazil. And now, after all of these unknown times I took head on, wind on the face from the open windows of the car, I am again ready to go back home.

A few weeks, no more, and I will be gone again. This time back down north. Friends in the US, I hope to see you again soon. Before then, I will make more time again to write here of these times of travel. Of what I have learned. And of what twists my guts and zings my mind and moves me throughout this broad land of ours.

I hope you all are well.

With love,

Ainda é cedo

Uma menina me ensinou
Que quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia:
- Ainda é cedo
cedo
, cedo
, cedo
, cedo.

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.
E eu dizia:
- Ainda é cedo
cedo
, cedo
, cedo
, cedo.

Legião Urbana

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

De esperar e trabalhar

Estou na espera. Sou, quase me sinto, na espera. Um estado de ser, mais que estado de estar. Sou já a bastante tempo assim, na espera. Mas, melhor assim, que ser des-esperado. Esperar também é ser esperançoso, afinal. E enquanto espero, penso. E penso não só no que espero – penso também no que não espero. Espero voltar a estudar, mas se não volto, devo pensar no que fazer. Trabalhar, quem sabe, como se fosse a primeira vez na vida. Não que seria, mas talvez seja o primeiro “emprego” assim, do tipo de se submeter as demandas de produção de uma laia que quer lucros... Só trabalhei antes por minha própria conta, para organizações sem fins lucrativos, ou para o Estado – e ainda assim, só quando o Estado era tããão fraquinho que a comunidade tomava conta do trabalho por conta própria, sendo assim, as custas do Estado (e era um Estado que merecia ser “chifrado” assim, as próprias contas). Mas trabalhamos bem.

Um destes trabalhos públicos foi o melhor emprego que já tive na vida. Eu era pintor. Eu era um *bom* pintor. Pintor desses assim, de pintar parede de branco mesmo. Aprendi com as companheiras que já trabalhavam antes de mim. Era um trabalho de verão, a universidade não tinha aulas e contratava um grupo de uns 12 alunos para fazer todo o trabalho nos dormitórios. O nosso “chefe” em imediato era um ex-aluno, e escolhiamos entre nós mesmos supervisores de grupos para cada tarefa. No início do verão, todos trabalhavamos juntos, limpando os dormitórios. Era uma das melhores partes do trabalho. Entravamos nos quartos recém abandonados e encontravamos, no meio do lixo, muitas coisas boas também que os filhinhos de mamãe largavam pra trás. Móveis, utensílios domésticosde todos os tipos, até frigobars, livros, CDs, e todo tipo de coisa que entulhavam os dormitórios daquela gente. Chamavamos isso de “loot”, a despolia de guerra ou de piratagen.

Depois que separavamos as “spoils” do lixo, limpavamos tudo, e esvaziavamos os móveis a ser trocados. Depois disso, entravamos na rotina de verão: cuidavamos dos jardins e áreas externas quando a manhã ainda não estava muito quente, depois nos dividiamos em dois grupos: um para reconstruir as dry-walls, aquelas paredes de gesso-com-cartolina barata que se usa nos EEUU, e que apodrecia de ano em ano no clima húmido da Florida; o outro para repintar os quartos.

Nas primeiras semanas, as novas trabalhadoras revezavam nos dois grupos, para aprender os dois tipos de trabalho, e para decidir aonde levavam mais gosto e aptidão. Ao longo dos dias, os dois grupos se solidificavam, e ao fim do verão já tinhamos caráteres devidamente distintos – uns se orgulhavam do trabalho de se revezar nos buracos e da lizura de seu produto, outros se orgulhavam do trabalho conjunto de acabar um apartamento inteiro rapidamente, cada um tomando uma parede, e da brancura homogenea de nosso produto. E é claro, chamavamos os outros de preguiçosos e pulmão-de-pó, e elas nos chamavam de trolando-em-tinta e tolos por trabalhar todos ao mesmo tempo.

Mas não trabalhavamos todo o tempo. Na verdade, das 8 horas por dia que recebiamos, trabalhavamos mesmo, mesmo, só umas 4 a 6 horas. Dependendo do trabalho e de nosso gosto. Especialmente na maior parte do verão, pintar e refazer paredes, o time “plaster” levava certo tempo para preparar a massa. Enquanto um preparava, as outras descansavam. Enquanto outra rebocava, o resto descansava. E depois enquanto outro ainda limpava o material, denovo descanso.

Já o time da tinta levava menos tempo para preparar o material. Mas as vezes levava certo tempo para preparar o quarto. Afinal, como qualquer bom pintor sabe, é necessário passar fita nas janelas, nos rodapés, nas tomadas (ou retirar as tomadas), etc. Então, após o serviço de jardin, até preparar um apartamento, já era 10.30 da manhã, e não daria tempo de pintar tudo antes do almoço... e, é claro, não valeria a pena começar a pintar, ter que parar, embrulhar os rolos e pinçéis, as tintas, sair para almoçar, cheios de tinta, e voltar para tentar melhorar a estranha mistura de tinta fresca e tinta secando já em partes da parede... Então parávamos o trabalho as 10.30, descansavamos até meio dia, e depois de uma da tarde, aí sim começavamos a pintar. E como pintavamos bem, e como todos pintavam juntos, conseguiamos terminar o apartamento inteiro naquela tarde. Se estivessemos animados, dava tempo de limpar o material e preparar outros quartos também. No dia seguinte, entravamos, pintavamos, e terminavamos o serviço todo na manhã. Por que se chovia de tarde, era tão húmido que não dava para pintar (a tinta escorria pela parede e não secava). Aí agente usava esse tempo para preparar um quarto ou outro, mas ainda assim, só bastava preparar o serviço do próximo dia, ou dois, se trabalhavamos em quartos menores, em grupos menores. O resto do tempo então jogavamos cartas, liamos livros, tiravamos sonecas, as vezes a tarde inteira...

Ou seja, nós eramos donos de nosso próprio trabalho. Nós e nossas amizades moravamos naqueles quartos e apartamentos durante os anos. Nós escolhiamos quando e como trabalhar. Contanto que produzissemos o serviço, nosso “chefe” não nos daria nenhum trabalho. E ele trabalhou conosco antes, os mais velhos, assim como um de nós depois foi ser o “chefe” do novo grupo em um ano seguinte. Trabalhei três anos assim. No primeiro ano, era membro do time da tinta. Depois passei a ser o supervisor desse time. Eu que era “responsável” por coordenar as decisões de trabalho do grupo – incluindo as decisões de quando não-trabalhar – e garantir que o serviço ficasse bem feito e o material limpo no final do dia. Claro, minha posição era mais simbólica que funcional. Afinal, não tinha poder nenhum de forçar alguem a trabalhar. Se havia pressão, o grupo inteiro fazia essa pressão dizendo “pô, fulano, não faz bagunça assim por que então nós todos teremos que limpar, e isso sai do nosso tempo de descanso!” Eu agia, então, mais como representante do time da tinta, quando tinhamos que coordenar tarefas entre os times, do que um “chefinho.” Toda parede reconstruida tinha que ser pintada depois. Mas não só as paredes reconstruidas tinham que ser pintadas. Eram quartos tão cheios de fumo que as paredes amarelavam. Eram quartos tão cheios de artes de todos os tipos que as paredes se tornavam murais. As vezes, decidiamos deixar os melhores trabalhos. As alunas que morariam naquele quarto no próximo ano teriam de aprovar e adotar a arte. Se não, branco. Tinhamos mais liberdade nos apartamentos dos alunos mais velhos, pois lá sempre escolhiamos uma parede para dar uma cor viva ao ambiente. Eu gostava do vermelho vinho. Fiz esse no meu próprio apartamento.

No final do verão, trabalhavamos dobrado. Por escolha. Era um trabalho duro, pesado mesmo. Tinhamos que recolocar os móveis no lugar, sabendo quantos alunos em cada quarto ou apartamento. Carregar estantes de ferro acima e abaixo escadas, armários de madeira grossa, e colchões até não acabar mais. Mas era um trabalho conjunto, um trabalho curtido, e um trabalho que valia a pena fazer hora extra – era melhor trabalhar menos dias, mas longos dias, do que extender esse serviço e fazer se tornar chato e árduo. Assim, escolhiamos quando tiravamos nossas férias, e também escolhiamos quando fazer hora extra. Tiravamos toda a hora extra nas mesmas duas últimas semanas juntos. Recebiamos assim, logo após concluir o trabalho de verão, aquele pagamento gordão, mil contos ou mais, fácil fácil, por cada uma destas semanas. Durante o verão, não tinhamos dispesa, e não precisavamos de dinheiro. Mas também então, tinhamos mais dinheiro quando precisariamos de mais dinheiro, no início do semestre.

Alguns de nós mantinhamos o trabalho durante o ano, nas raras ocasiões que algum serviço necessitava ser feito ainda durante o semestre. Outros só voltavam no ano seguinte. Quem já tinha trabalhado antes já sabia trabalhar e conhecia os esquemas, era automaticamente recontratado (a não ser que a pessoa tivesse causado problemas para o grupo, então não voltava). Muitas outras pessoas queriam o emprego, as vagas que esvaziavam quando graduavamos ou não queriamos ficar no campus durante o verão. Então as trabalhadoras do verão passado se juntavam para ler as aplicações dos outros, e a escolha era feita baseada em nossa recomendação: quem trabalharia bem no nosso esquema, quem trabalharia bem em conjunto, quem produziria, com disciplina, com bom humor, e com a organização necessária para administrar nosso próprio trabalho, para manter nossos bons salários (que incluia habitação durante o verão inteiro) e continuar trabalhando como e quando decidiamos.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Summer at large

If I havent writen in English much, it is due to two main reasons: primarily, while little feedback came from my English speaking friends, I began to receive much more feedback from the (far fewer) Portuguese speaking friends, at first along the lines of "why dont you write in Portuguese", and then in all other sorts of ways; secondly, because while traveling in South America and back in Brazil I began to have spells of wanting to re-Brazilianize myself.

If any of you English-only readers feel that you would like to know more from me, then do a better job letting me know! There have been some events, sure, but, not to say they are not 'blogworthy', they are at least, compared with the more touristy parts of the blog in Peru and Bolivia, or the more (I dont know what word to use here) part in my work with social movements, etc., the recent times have been more of the traditional Brazilian taking-it-easy vacations... Holidays, sitting around on the beach, yadda yadda.

As for re-Brazilianizing myself, well, that is a tough project... and not one I am always excited to take on. Sometimes it feels something of an obligation. The reasons for that are left for another ocassion - for now, I want to rant about why this obligation is sometimes faced as an uncomfortable challenge, rather than a joyous endeavor. Truth is, having spent the past decade (ish) abroad has left me very unused to the lack of structure of life here, and the ways in which I was already critical of this lack of structure became harsher.

By 'lack of structure' I mean not only institutional mess, such as the inabily of the post office to keep up with a 10am deadline for the special service (and, what really hits the spot, the fact that 'the system was down' in that whole city and we couldnt check on the delivery status). I mean a social lack of structure, where something as simple as using an elevator becomes a moment for culture shock; after all, something as obvious as the fact that the people inside a very small space must first be able to leave it in order for others to enter escapes the mind of some, who cram themselves onto me with a dog-look on their face as I try to make way for them. Now, this is not to say that this only happens here, as opposed to the US, for example, but it is an example from this afternoon that struck me as illustrative of the type of 'lack of social structure' that I am talking about. THAT is far more widespread here than down north.

It frustrates me. I can also see how too much such 'structure' could also be frustrating, as a friend of mine living in Germany has pointed out. There, she said, people dont jaywalk, even if there are no cars around, or if they do, they look around to see if anyone else is watching, and justify to themselves their 'transgression' saying that, "well, at least there werent any children watching to take on a bad example." These real life acounts may be a bit extreme, but perhaps, between the matuto from the elevator and the chucrute who doesnt jaywalk, there is a comfortable in-between - what I am used to.

And before anyone takes this to be too much of me acting gringo, you must first know my parents. They are not typical Brazilians, in so far as social structure is concerned. My father actually tends towards the German end of things, but in that conservative Minas Gerais way. They are people who struggle alot to live through a world in which nothing works as well as it should, could, and would if the structure were maintained. Also, when I speak of the 'typical Brazilian', one must understand that I am writing this from a beach town in the state of Rio de Janeiro, a place quite different culturally from other parts of the country to the south of here, where there indeed is more structure (and heavier central european colonization). As far as north of here, on the other hand, I believe the structure is even more chaotic. And out west, where I am from, well... It is a mix of all these things, as it has been historically settled afterwards from the southeast and northeast.

And if anyone wants to know where are the indigenous in this 'typical' picture of Brazil - well - dead, for the most part. We carried out one of the most extensive genocides of the Americas, along with the United States. F'd up. The sad thing is that it hardly enters the 'picture' then.

There is a classic book called "Raizes do Brasil", "Roots of Brazil", by Sergio Buarque de Holanda. It was a piece of scholarship somewhere between sociology, anthropology, history and social criticism, on the formation of the Brazilian people. A classic, it is not that new, duh, so approach it with the grains of decades of salt - but - it remains an amazing piece through and through. There, he explains the word "desleixo." I cannot begin to make justice to it as a concept, the role it plays in our society, or Holanda's account of it. But, it has something to do with what I have here been calling 'lack of social structure', with an added layer of laziness and feeling that "it is just not worth it."

And when I really face up to the struggles of improving society in Brazil, when I am really realistic about the prospects for progress, I struggle the hardest with that most Brazilian part of myself... desleixo. It feels that, really, it just might not be worth it. It would crunch my heart and tear my brainvessels, it would alienate me from society and threaten my quality and quantity of life, and it would all be for a seemingly impossible goal, a goal that mocks with its distant grandeur.

I go back to the thought, now, of graduate school down north. So comfortable and comforting a thought. I go forwards to a feared future in which I am resigned to an ink-and-paper interaction with this society of desleixados. A prophet never-been-armed, however, seems a dim and sad old man, grouchy with the world around him, or happy only in its hermit den. Children and grandchildren would then embody, literally, all the hopes that I would have left aside - por desleixo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Highland to sea, a year dawns

Summer storms, highland waterfalls flood
Down, earlier than thought, we rolled

In the brick bowl of Beautiful Horizon
A fourth friend there dragged on

From Black Gold to Stone City
Comrades host amidst mountain mist

Three again, down ashore we wash
Sun at day, fires at night, the sky burst

Onto the sand, days come and go
Companions afar, heart at a hold

The fourth joins again, at the sand
Sun, guitar, the lazy days bend

Two off to the River, but I
Heart- with the home- sick, lay by