quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Outro Governador abaixo, mas, ainda, o Governo continua...

No mesmo dia que o DEM ameaça expulsar Paulo Octávio em 24 horas, e apesar de continuar sem sequer ameaça de prisão, P.O. pede desfiliação e em seqüência renuncia o cargo de Vice-Governador do GDF. Assume, portanto, o até então presidente da Câmara Legislativa Wilson Lima (PR), Arrudista descarado, que já havia recebido este cargo após a renúncia de Leonardo “Das Meias” Prudente (ex-DEM). Prudente renunciou do cargo de presidente da Câmara, note, mas não do cargo de Deputado Distrital. Ele, assim como todos os outros acusados, continua alegando sua inocência e segurando “nas abas de saias”, com havia dito antes, para se manter em seu cargo. A diferença agora é que as “saias” não são mais as de Paulo Octávio, mas de Wilson Lima, que, apesar de também ser acusado no mesmo esquema de corrupção que Paulo Octávio, ao contrário daquele, sorri com “o apoio do secretariado e... até da Câmara Legislativa”, conforme diz o Secretário de Transportes Alberto Fraga. Este continua: “Não vejo anormalidade no governo. Temos que nos unir contra esse golpe da intervenção.”

O governo zumbi que foi impossível para Paulo Octávio, portanto, continua sendo o sonho da politicagem Brasiliense, para quem a intervenção Federal soa cada vez mais como pesadelo. Wilson Lima já adotou a expressão que eu utilizei no dia que Arruda foi preso – ele disse a Folha “que está disposto a fazer ‘um sacrifício pessoal’ para garantir a governabilidade da capital federal e evitar uma intervenção da União.” Tudo indica que este “sacrifício” seria deixar de lado sua campanha por reeleição para continuar no cargo de Governador Interino até Janeiro, ou, putz, até um possível habeas corpus para Arruda antes de seu impeachment. Um impeachment que parece andar mais rápido agora que antes da renúncia de Paulo Octávio, pois, afinal, o governo zumbi agrega os interesses da politicagem Brasiliense toda, dês dos Deputados ex-DEM até os do PT-DF. O presidente em exercício da Câmara Legislativa após a ascensão de Wilson Lima ao Palácio do Buriti, Cabo Patrício (PT), indica com toda certeza seu objetivo: “A Câmara começa a tomar atitudes em função da pressão do Judiciário. Essa pressão fará os pedidos de impeachment andarem rápido. Os deputados precisam transformar em ação o discurso contra a intervenção.” Ou seja, vamos logo acabar com a possibilidade do retorno de Arruda para que não haja mais tanta motivação para intervenção Federal – que também causaria a dissolução da Câmara Legislativa – para que essa putaria que ainda está em Brasília siga governando. Afinal, o governo zumbi é como disse antes, “oposição” e “base aliada” se unem para evitar não perderem seus mandatos e desarticular seus planos de reeleição devido a intervenção Federal. De acordo com Cabo Patrício, “O PT é oposição mas não vai fazer cavalo de batalha com o governo,” pois, ora, Patrício mesmo é acusado de beneficiar a empresa do governista “Das Meias” Prudente!

Enquanto durar o governo zumbi de Wilson Lima, sua putrefação deve também afetar os órgãos e movimentos sociais que tem até então se posicionado como atores da desmancha do governo Demista. Afinal, o PT não entrará com um pedido de impeachment de mais um Governador – Wilson Lima nesse caso – que apesar de estar envolvido no mesmo esquema de corrupção dos dois anteriores a assombrarem o Palácio do Buriti, deixa um Petista na presidência da Câmara e as alternativas de intervenção Federal ou eleições extraordinárias indiretas por uma Câmara da qual são minoria. Nesta situação, é duvidoso se a OAB, a CUT, o PSB e o PCdoB, os outros impeachment-istas, teriam motivação para seguir naquela estratégia. Agora sem todas estas siglas, o que restaria para fazer oposição ao governo zumbi? Claro! O Movimento “popular” Fora Arruda, que se estendeu bagunçadamente para “Movimento Fora Arruda e P.O.”, e agora poderia vir a se chamar “Movimento Fora Arruda, P.O. e Wilson Lima.” Por que digo isso com tanto sarcasmo? Por que este movimento “popular” (que eu antes ignorei dizendo que “não havia um movimento popular” na derrubada de Arruda e pela construção de um novo modo de se governar) não é um agente de mudanças no DF, mas um mero seguidor de acontecimentos com protestos, conforme sua própria auto-caracterização por seus nomes – uma mera negação de Arruda, depois de Paulo Octávio, e agora nem está claro se terão coesão suficiente para fazer oposição à Wilson Lima. Veja quem integra este movimento – militantes do PSTU, PSOL e outras minorias que querem fazer uma oposição “esquerdista” ao Governo, mas nem adotam formas de ação inovadoras que pudessem afetar a governabilidade, nem recebem apoio popular no sentido de serem capazes de mobilizar as centenas de milhares de pessoas do Distrito Federal.

Com todo o nojo de dizer isso, seria até possível que um habeas corpus para Arruda pudesse vir em boa hora! Isso atiçaria um pouco mais a população, que poderia vir a realmente tornar popular o Movimento Fora Arruda. E a politicagem joga de mãos abertas! "A ordem é garantir a normalidade e, em conseqüência, a governabilidade e a não paralisia de qualquer órgão, de qualquer obras", disse o Secretário Fraga. Onde estão os elos fracos então? Onde estão os focos estratégicos para mobilização de massa e ações de oposição ao governo? Óbvio! Nas obras iniciadas por Arruda-P.O. que tem data marcada para a inauguração de Brasília e dedos sujos em todos seus orçamentos! Nos órgãos governamentais que compõe o governo fora da Câmara e do Palácio do Buriti e aonde sempre faltam verbas, desviadas para a própria Câmara e Buriti! Então se o PT e a CUT não são mais espaços aonde as trabalhadoras possam se organizar para fazer as greves nas obras e nos órgãos que deveriam estar se preparando para entrar em greve, e se o PSTU e o PSOL não tem a formação política para levar adiante ocupações destas obras e órgãos como deveriam fazer conforme sua mentalidade vanguardista, cabe a nós ter esperança que “o povo” em uma massificação do Movimento Fora Arruda pudesse tomar uma atitude de classe séria contra o governo.

Mas ainda existe muito medo e ignorância. Temos medo que isso “só agravaria a intervenção” e somos ignorantes das múltiplas possibilidades de democracia que poderíamos utilizar para mudar como organizar e governar a nós mesmos. Repito: atente a isto, pois esta é uma crucial falha nossa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dois da boca de trás do fogão...

Há dois assuntos sobre os quais amizades minhas tem me perguntado bastante mas eu não tenho escrito nada: minha visita a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) para uma plenária da Via Campesina, e um simpósio sobre as relações Brasil-China entre membros de seus respectivos partidos governistas.

Para mim, é interessante pensar nos grandes contrastes entre estes dois eventos, e talvez por isso tenha sido melhor para mim esperar até agora, que os dois já são passados e pensados, para escrever sobre ambos. Sei também que tenho pensado sobre que língua usar para escrever sobre assuntos como esses, que são perguntados a mim em Português mas eram os assuntos de maior interesse de minhas amizades Anglófonas. Solução: tentarei re-escrever sobre isso posteriormente em Inglês. Talvez por isso, tentarei dizer menos sobre os assuntos nas duas versões.

Primeiro, a ENFF, para quem não conhece, é uma instituição de educação superior e formação política construída pelo MST em Guararema-SP, que acaba de celebrar seus 5 anos de inauguração no início deste mês. O local é rural, mas rente ao perímetro urbano da Grande São Paulo, e o espaço é grande, inclui uma pequena área residencial para os que lá vivem e trabalham, uma área espaçosa para cozinhar, comer e se divertir em grandes grupos, uma área com boa estrutura para classes e encontros, seja em salas menores ou em plenária maior, além de uma pequena biblioteca e uma sala de computadores, bastante espaço com dormitórios para alunas em tempo-escola ou participantes de encontros, e por fim, muito mais espaço para criação de animais (vacas, coelhos), horta e pomar, e até um campo de futebol. Chamo atenção que nessa descrição se encontra um ambiente comunitário muito mais completo do que dispõem a grande maioria de instituições de educação de nosso país. Talvez isso seja devido ao "meio urbano" ou a falta de recursos, mas o fator predominante, em minha opinião, é a estrutura política que diferencia.

A ENFF foi construída como uma instituição de classe, por sua classe (ainda que com o apoio de pessoas vindas de todas as classes, como a contribuição de Sebastião Salgado da renda de seu trabalho sobre o MST, e também de Chico Buarque). Logo, a ENFF foi planejada para se conformar as demandas de educação apropriadas para esta classe - como o espaço residencial e dormitórios para os participantes em "ambas as pontas" da educação lá proferida. Para quem não leu minha descrição sobre o Instituto Educar, que visitei ano passado no Sul, vale ler para tomar uma noção de conceitos como tempo-comunidade/tempo-escola, que também compõe a estrutura da ENFF. Outra característica comum é a organização dos participantes (não só nos cursos regulares, mas também em encontros como o da Via no qual participei) em "núcleos de base" ou "brigadas" para compartir muito do trabalho do dia-a-dia. No entanto, na ENFF, a "brigada da casa" cuida de toda a produção por conta própria durante encontros.

A ENFF representa a capacidade das classes trabalhadoras de construírem sua própria sociedade. Vão construindo assim, aos miúdos, tijolo por tijolo e escola por escola, isso enquanto a disputa é aberta, mas a luta é abafada. De certo modo, representa a tática de acumulo de forças, mas diferencia criticamente da estratégia do PT de chamar ganhos eleitorais e burocratização de "acumulo de forças" ao invés do que realmente é, acumulo de cargos. As forças acumuladas na ENFF não são só concretizadas na educação e formação que muitos obtêm, ainda que esta seja sua mais clara expressão, mas também em todas as outras articulações e eventos que ocorrem naquele espaço (como a plenária da Via que presenciei). "Ter nosso próprio lugar, com toda infra-estrutura necessária, conforto, e orgulho que nós mesmas construímos" é, profundamente, a maior força que pode ser "acumulada" na ENFF por todas as pessoas que dela participam. Em termos materiais, os movimentos camponeses no Brasil, e o MST em particular, não necessitam da caridade e nem dependem da solidariedade, possivelmente instável, de nenhuma instituição (acadêmica, religiosa, sindical ou partidária) para as atividades de educação, formação, e auto-gestão que requerem tal espaço. E isso permite uma conquista ideológica de que realmente é possível que os camponeses, em solidariedade com as forças progressistas das outras classes, possam construir nossa própria sociedade.

Em relação ao encontro da Via em si, direi muito menos. Para discutir o conteúdo da plenária, as leitoras teriam de ser bastante familiares com a situação já por conta própria, e não caberia a mim ser o porta-voz de notícias melhor recebidas por outras vias. Mas para as que não são tão familiares, direi o que se passou a nível apropriado. Foi um encontro, o segundo, de nível nacional dos movimentos sociais e organizações que compõe a Via Campesina Brasil, para avaliar seu desempenho dês da primeira plenária, mais ou menos dois anos atrás, e se preparar conjuntamente para os próximos mais ou menos dois anos. A Via é composta das seguintes organizações no Brasil: MST, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral da Juventude Rural (PJR), Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB), Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF), e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).

É relevante notar que nem todas as integrantes são explicitamente camponesas, como a CPT, a FEAB e a ABEEF, além do caso específico do CIMI (que nem uma organização explicitamente indígena é, mas de missionários). Isto por que a luta pela expansão e fortalecimento do território camponês é a linha de frente de uma luta mais ampla por soberania alimentar e poder popular. De todo o conteúdo da plenária, realçarei somente este: a necessidade feita explicita de expandir o leque de alianças para as classes trabalhadoras tanto na cidade como no campo. Quinze tratoristas, foi dito, poderiam paralisar a produção de centenas ou milhares de hectares, algo que levaria a mobilização de centenas de camponeses em ocupação para obter semelhante resultado. Ainda mais, diante de uma suposta ocupação, as trabalhadoras assalariadas são possivelmente alienadas da luta, e poderiam até ver no proprietário ou agronegócio um aliado de quem obtêm seu emprego e sua renda – a busca por aliança com trabalhadoras rurais assalariadas, então, poderia constituir um salto qualitativo na expansão da luta pelo território camponês. O objetivo seria materializar esta aliança para redesenhar o sistema de produção agrícola como um todo, inclusive as indústrias agrícolas.

Deixando de lado maiores detalhes sobre a ENFF ou a Via, sigo com uma descrição dos eventos em Brasília entre os partidos governistas do Brasil e da China. Este evento foi o terceiro simpósio entre os partidos, o primeiro ocorreu em 2007, e este foi dito o de maior participação, em sua grande maioria de membros do PT e de organizações aliadas e interessadas (como representantes do PSB e do PCdoB, de órgãos governamentais como ministérios e agências estatais, de sindicatos e de movimentos sociais). O programa incluiu três temas, sobre cada qual um palestrante Brasileiro e um Chinês discursaram e responderam algumas perguntas: a visão do Brasil e da China sobre a África, a visão dos mesmos sobre suas relações mútuas, e a visão dos mesmos sobre uma “nova ordem internacional”.

As palestras Chinesas foram tiradas diretamente dos textos entregues, que também seguiam diretamente a linha partidária promovida por membros mais acima na hierarquia, tanto em eventos domésticos quanto em visitas anteriores ao Brasil. As respostas que davam as perguntas também eram baseadas em maiores detalhes, especialmente estatísticos, sobre os mesmos temas já abordados em seus textos. Ou seja, não houve oportunidade nenhuma para se aprender nada de novo que não pudesse ser estudado por conta própria através de textos. Isto considerando somente o conteúdo das apresentações.

Em contraste, as palestras Brasileiras foram quase conversas soltas que seguiam mais ou menos a seqüência dos argumentos dos textos nas quais eram baseadas. As respostas, por serem ainda mais informais que os textos e palestras, continham não só um conteúdo mais explícito em termos de nomes de pessoas e descrições de eventos somente aludidos nos textos, mas também revelavam muito mais claramente a posição ideológica dos palestrantes e do partido e governo que representam. Não é que o conteúdo dessas palestras era informativo, pois o mesmo poderia ser aprendido, e com mais detalhes, em um estudo de textos, mas que esta diferença entre conteúdo-texto e conteúdo-debate faz mais explícito o que foi interessante e importante aprender durante o evento: as relações humanas por trás desta política.

Ora, se ninguém deveria atender estes seminários para ser informado, e o evento obviamente não definia linhas de política mas meramente as defendia, justificava, e propagandeava, só poderiam participar pessoas com três objetivos: primeiro, se alguém lá achava que estava sendo informado e sentindo-se beneficiado por esse conteúdo, era um bobo alegre que não se passa de alvo para as pessoas com o segundo objetivo, de propagandear a linha política pré-estabelecida em âmbitos muito menos discursivos e participativos. Isto é, o PT se encontra como governo com membros do governo Chinês e decide todo o fino e o grosso de suas políticas entre si (e notem também, com a África), e depois convida membros faladores entre sua base, seus aliados e movimentos sociais para justificar e propagandear suas decisões. Este era o objetivo formal do evento. O informal, o terceiro objetivo pelo qual alguém poderia estar por lá, era simplesmente de fazer seus próprios contatos, o que os Chineses chamam de guanxi e os estadunidenses de networking.

Aí que entra muita politicagem, e aí que entram muitas boas oportunidades também. Eu, por exemplo, conheci um filho do Wladimir Pomar que se formou como geógrafo e já trabalhou na área que estarei pesquisando – e este contato certamente me ajudará na obtenção de dados e mais guanxi para avançar minha pesquisa. A guanxi que outras pessoas fizeram por lá ficará para sempre “perdida” nas centenas de histórias daqueles momentos, e eu só lidarei com isso no contexto maior do evento como um todo. Veja, a função propagandista da delegação Chinesa era obviamente complementada com uma função de arrecadar informações sobre a “opinião pública” Brasileira sobre seu projeto. A guanxi feita entre a delegação Chinesa e algumas pessoas lá que poderiam articular o apoio a política delas em paralelo a sua própria (isto é, a do PT) são extremamente importantes na consolidação de um projeto global de industrialização guiado pela retórica de nacional-desenvolvimentismo.

O PT nunca esteve tão contente nos últimos vinte anos em falar de socialismo, quando o socialismo a ser admirado é o modelo Chinês, e os Chineses nunca estiveram tão preocupados em diferenciar sua relação com a África e America Latina dos Europeus e Estadunidenses – o que antes era chamado neo-colonialismo agora é chamado parceria para desenvolvimento. Seria como se a relação atual fosse “nova” somente por que se esquece que os Europeus e Estadunidenses também se justificavam (e seguem se justificando) que sua colonização era em nome “da civilização.”

Então, nós e a África, que antes “não éramos civilizados” e por isso “precisávamos” da colonização Européia, agora “não somos desenvolvidos” e por isso precisamos do apoio Chinês. Precisamos seguir fielmente o modelo de industrialização com mão-de-obra barata para exportação, precisamos atrair ainda mais investimentos estrangeiros, e precisamos apoiar um império econômico Chinês simplesmente por este não ser Estadunidense ou Europeu.

E ignoremos o fato de que a China já havia completado uma reforma agrária revolucionária, que seus trabalhadores então podem voltar para suas terras nos períodos de crise de superprodução, que seu mercado interno é subsidiado diretamente por um estado que elimina impostos dos camponeses reconhecendo sua dívida para com a classe que continua sendo posta em desvantagem com a política de industrialização... Por que se ignoramos isso tudo podemos até fingir que o nacional-desenvolvimentismo Petista conseguirá o sucesso do crescimento econômico, da industrialização globalmente competitiva, do estado de bem-estar social regularmente financiado.... isto é, podemos até acreditar que o PT conseguirá o que nenhum partido capitalista conseguiu: construir um país capitalista de liderança no mundo! E o PT conseguirá isso, lembre-se do esquecimento, sem ter que fazer a revolução socialista e a reforma agrária que a China havia feito!

Mas então, dentro deste clima áspero de justificativas para mais-do-mesmo, eu posso dizer que eu aprendi muito sobre como me comportar e lidar com esse tipo de gente. Pensei e discuti o tema bastante com uma pessoa que está acostumada a lidar com essas relações complicadas, com gente do tipo desses Partidos. Para mim, é uma mudança extremamente importante, de ativista estadunidense que se orgulha de falar-a-verdade-ao-poder, para alguém que para pra pensar sobre a situação e fica quieto, e quando fala, fala não para dizer uma verdade que será ignorada ou rejeitada, mas fala como Chinês – indiretamente, rodando em volta dos pontos de conflito, e buscando a posição estratégica para ficar por cima do inimigo antes que ele perceba o que está se passando.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval a candanga

Pra lá de Formosa, saindo à direita ao lado de uma padaria na comunidade de Bezerra, entra-se numas estradas de chão que passam pelo meio de algumas fazendas e fazendinhas e chegam (pegando o caminho certo) em uma nascente chamada Poço Azul. O cerrado ainda vive verde forte nas encostas das chapadinhas ao norte, e muita água desce de uns morrinhos ao sul, enchendo o que agora é pasto de buritis solteiros, e em algum lugar ali no meio, ao lado de um paredão de pedra e escondido embaixo de grossas árvores fechadas entre si por mato e cipó, brota do chão uma água fresquinha e – normalmente – completamente transparente.

Mas era carnaval, e até chegarmos lá uma grande família com toda sua molecada já estava saindo da nascente, deixando pra traz a água removida com areia das bordas nevoando a nascente todinha… Há uma grande árvore caída que atravessa o poço da nascente, uma ponte natural que facilita entrar no poço sem remexer a areia nas bordas, de lá podendo mergulhar diretamente no miolo azul sem macular sua transparência. Nadamos e ficamos como tartarugas no tronco, batendo papo e esperando a nascente clarear.

E assim fizemos até, algumas poucas horas depois, outro grupinho como aquele chegar. Decidimos seguir então, de volta para a estrada e mais além de Bezerra, até umas pamonharias, aonde complementamos nossos lanches de biscoitos e frutas com, claro, pamonhas e cerveja. Lá recebemos informações de como chegar a um sítio arqueológico na região, chamada Bisnal, e conhecido por lá como a “pedra escrivida”, e depois seguir para uma cachoeira ali perto. O conhecimento da região é incrível para quem está acostumado a passar por inumeráveis “regiões” sem nunca imaginar toda essa história e essa beleza natural por todos os lados. Atrás das pamonharias e de uma fazendinha (passe três mata-burros, vire a esquerda, se a cancela ao lado do riacho estiver aberta é só seguir, passe mais três cancelas e) lá está uma grande chapa de rocha preta, inclinada ao pé de uma encosta, com desenhos entalhados que só poderiam ser obra da mão humana. Círculos e linhas em padrões que lembram mapas de bacias hidrográficas ou constelações e marcas que parecem para relógios de sol se espalham por dezenas de metros sobre toda a rocha. O sol forte enche de calor a rocha negra aos pés e os olhos de luz no descampado desta encosta de cerradão. Ficamos nos perguntando que civilização fez isso, como, quando e por que.

Levamos nossos pensamentos para ficar de molho na cachoeira, dentro de uma fazendinha que até construiu um banheirinho lá ao lado do topo da queda, aonde poderíamos ir de até carro e seria fácil levar a tranqueira toda para fazer churrasco. Mas já era o meio da tarde e não sentíamos fôlego de comer nada que não fosse fruta e água fresca da mão pra boca, muito menos de escalar a cachoeira até seu poço, muitas dezenas de metros abaixo. Um abraço de água aos ombros na primeira quedinha, um poço embaixo duma outra quedinha que borbulha e contorce a água para dentro de si igual a uma banheira de massagem, e se estirar nas pedras entre as águas que vão se esticando e tomando velocidade em direção aos saltos um pouco mais além… tudo isso dentro da sombra fresca que circunda o riacho e desacostuma os olhos com o sol forte que ainda batia no morro ao leste, subindo quase como uma montanha por detrás do vale no qual a cachoeira se atirava.

Ficamos até o sol ficar abaixo da vontade de voltar, chegamos de volta nas cidades já escurecendo, comemos umas pizzas, tomamos banho, e assim fechamos uma boa segunda feira de carnaval.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Paulo Octávio continua...

Na primeira versão to texto que escrevi sobre a prisão de Arruda, eu não mencionava a possibilidade de intervensão pelo Governo Federal. O “debate” considerado era somente entre manter Paulo Octávio como Governador até janeiro do ano seguinte, ou, prendendo também Paulo Octávio e todos os deputados distritais envolvidos (e deixando assim tanto o executivo quanto o legislativo incapacitados de assumir o cargo), deixar que o judiciário convocasse eleições extraordinárias – isso na véspera das eleições gerais.

Imediatamente após publicar aquela versão, minha atenção foi chamada por uma companheira que o STF poderia requerir intervenção pelo Governo Federal, com tom de que “Lula indicará um suplente” e isso será algo a celebrar. O STF até que se manifestou no dia seguinte para negar o habeas corpus de Arruda, mas está enrolando uma decisão sobre intervenção. Esta enrolação, agora se nota, vai durar até, no mínimo, o fim do carnaval.

Enquanto isso, Lula já pronuncia que uma intervenção seria feita com desânimo e sentimento de obrigação. Isso ainda sendo a “solução” de menos problemas colaterais para todos os que não tiram os olhos das eleições no fim do ano – e não cogitam uma eleição extraordinária de nenhuma maneira.

E enquanto isso, Paulo Octávio começa a usar a posição surrupiada de Governador para tentar amontoar embaixo de seus pés merda o suficiente para que ele continue sem afundar – pediu que todos os secretários colocassem seus cargos a sua disposição e iniciou uma ronda de todos os partidos com presença no Distrito Federal para tentar costurar uma base de apoio para um governo Frankenstein, uma perna pro PMDB e outra pro PPS, a mão esquerda pro PDT e a direita pro PSDB... seria um verdadeiro governo-zumbi, uma coisa morta e putrefata que, sabe-se lá por que magia negra, continua animando e assombrando o Palácio do Buriti.

Seria só mesmo “engraçado” que tal conjuração não poderia ser invocada com sucesso, mas o ridículo é que essa impossibilidade não se deve a contínua oposição do PT-DF, que levou para as cortes hoje, junto a CUT o PSB e a OAB, um pedido de impeachment de Paulo Octávio, muito menos a um “movimento popular” contra Paulo Octávio que não existe. A impossibilidade do governo-zumbi vem mesmo é, tãnãnãnããã! do bendito DEM! Rachados entre os “amigos do Arruda” e os “oportunistas” que só pensam em silenciar a expressão “Mensalão do DEM” que repercurte por toda a mídia duzentas e quarenta vezes por dia, o que resta desse partido demandou hoje que todos seus membros no Distrito Federal abandonem seus cargos até quarta-feira (17), não importando quem esteja (ou não esteja) no cargo de Governador.

Apesar de que Arruda já havia “saido de fininho” do DEM como mencionado antes, Paulo Octávio se mantinha, até ontem, como o presidente do DEM no Distrito Federal – cargo que ele largou hoje na tentativa de apasiguar os Demistas mais preocupados com a mídia que com “velhas amizades.” Mas ora, o recado para Paulo Octávio foi claro: se você quiser tentar se manter no cargo, terá de fazer isso por conta própria, pois nós não queremos nada mais com você!

E enquanto o PT-DF (junto com a CUT, o PSB e a OAB) entram com um redundante pedido de impeachment – um pedido, veja, que teria de ser recebido por uma Câmara Distrital entupida de Arrudistas que estariam ou presos também, ou tentando (até mesmo sem partido) se manter nos seus cargos apoiando Paulo Octávio e se segurando nas abas da saia dele – o DEM que agora quer se ver livre de Paulo Octávio e virar esta página da história se tornou o grupo mais vocal a favor da intervenção Federal!

Agora basta esperar os juízes terminarem de dançar seu samba e tomar suas cervejas de carnaval para que vejamos se um Paulo Octávio sem partido será o chefe de um gabinete de todos os partidos que se conformem com uma pastinha ou outra de um governo decrépito, na desculpa de que “temos que nos preparar para celebrar o aniversário de 50 anos de Brasília”; ou se alguem de fora será lançado pela mão de Lula, a pedido do DEM, em cima de um palanque para bendizer as mazelas da Cidade da Politicagem com clima de festa!

Como será lindo celebrar o meio século desta cidade – um espanto! – com seus até então Governador e Vice, além de uma cambada de deputados, assessores e outros do mesmo trêm da alegria, todos presos! Mas o grotesco será o Dilmismo no qual isso tudo estará vestido...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A derrubada de um Governador, mas não de um Governo

Brasília, 11 de Fevereiro

Com a prisão preventiva do até então Governador do Distrito Federal Arruda, o Vice-Governador Paulo Otávio assume o cargo. Temporariamente, isto é, até a ação do Governo Federal amanhã para a indicação de um suplente ao cargo – aguardaremos atenciosamente estes desenvolvimentos, mas enquanto isso se pode dizer:

Arruda foi preso por tentativa de suborno de um jornalista – e o suborno era para que o jornalista publicasse uma série de artigos que atentassem contra a legitimidade dos vídeos nos quais Arruda e vários outros políticos e assessores são vistos aceitando dinheiro de suborno de várias empresas que buscavam favor com o Governo Distrital.

Isto é, a sentença pela qual Arruda está sendo condenado também deveria confirmar semelhante sentença a todos os outros envolvidos no esquema de corrupção – não só os outros cinco que estão sendo presos (ou já estava preso, no caso de um deles) por tentativa de suborno do tal jornalista. Mas então, o segundo a ser preso deveria ser o Vice-Governador Paulo Otávio, que, afinal, recebia 30% do dinheiro do esquema de corrupção, 10% só a menos que a parcela do próprio Governador Arruda (40%) e igual ao todo o restante (30%) do dinheiro distribuído pelas dúzias de outros políticos e assessores.

Mas Paulo Otávio ainda não está preso – por quê?

Há certamente muitos interesses em “abafar” recentes (divulgações de decorrentes) eventos no Governo Distrital, assim como houve interesse do DEM de desvincular de Arruda – mas de certo modo que o partido não buscasse retomar o cargo, em “punição” de Arruda, como poderia se esperar de um partido que realmente sentiu-se obrigado a romper laços não só com Arruda e sua laia política e empresarial mas também com esta prática de politicagem. Ora, Arruda “saiu de fininho” do DEM por que não interessaria a ele ser expulso, homem com fachada sórdida que já se encontra, e o DEM aceitou essa “resolução” contente e silenciosamente por que não interessaria a eles realmente mudar o *Governo* do Distrito Federal que continua – e eles querem que continue – a sua disposição.

A prisão de Arruda, portanto, poderia ser o sacrifício do órgão gangrenado para a salvação do resto do “corpo” Governamental (que é, diga-se, o “corpo” empresarial, representado no corpo de Paulo Otávio). Isto não ocorre necessariamente por que Paulo Otávio “tem costas mais quentes” com a classe empresarial ou burocrática-Federal que os sustenta, pois ele está sendo entregue meramente o “corpo defunto” do Governo DEMista do Distrito Federal temporariamente, isto é, até a ação do Governo Federal amanhã para a indicação de um suplente ao cargo. O golpe executado através de arapongas e jornalistas que “jogam nos dois lados” não favorece abertamente nenhum outro grupo, senão uma oposição partidária-eleitoral ao Governo do Distrito Federal, como um retorno de Roriz e sua laia na próxima disputa eleitoral, e o reforço a base governista do Governo Federal. A questão da extensão ou possíveis contrastes entre membros das classes empresariais e burocráticas (em ambos níveis Distrital e Federal) nas respectivas “laias” de Arruda, Roriz, DEM ou PT é um assunto interessante mas pouco pertinente para maioria que não toma parte na “política” a esse nível – isto é, na politicagem eleitoral que assola nosso país.

O assunto pertinente para maioria das pessoas do Distrito Federal, assim como do resto do país, é a sobreposição dos interesses empresariais e burocráticos nesta “transição” orquestrada com a derrubada do Governo de Arruda.

Os interesses burocráticos em uma “transição” sutil e gradual visam uma troca de cargos políticos através das eleições regulares do fim deste ano, para iniciar um novo Governo da própria oposição partidária pelos próximos quatro anos (com a possibilidade de uma reeleição em 2014). Não haveria interesse em nenhum burocrata de carreira, por outro lado, em assumir o cargo de Governador até somente janeiro de 2011 através das eleições extraordinárias que *deveriam* ser convocadas em 30 dias pelo Presidente do Judiciário no Distrito Federal. Este assumiria o cargo de Governador após a devida prisão do Vice-Presidente, Paulo Otávio, assim como do Presidente da Câmara Distrital, que também está envolvido no esquema de corrupção que fundamenta o golpe contra Arruda. Mas quem quer assumisse o cargo nestas circunstâncias eliminaria assim suas possibilidades de concorrer por qualquer outro cargo político durante os próximos quatro anos, devido à atual legislação do Superior Tribunal Eleitoral, algo que nenhum burocrata de carreira teria gosto por fazer.

Ainda assim, a oposição eleitoral poderia simplesmente levantar a sua bandeira por trás de qualquer burocrata de viés mais “técnico” que aceitasse o “sacrifício” do cargo através de eleições extraordinárias. Mas porquê se dar o trabalho de disputar não só uma, mas *duas* eleições, arriscando uma reação contrária ao candidato “titular” em Novembro devido as possíveis mazelas atribuídas ao Governador “temporário” aliado? Ainda além da politicagem eleitoral Distrital, pra que transformar este problema, ainda geralmente “contido” ao Distrito Federal, em um lance prévio de expectativa das eleições Federais de Novembro, que poderia afetar tanto a legitimidade dos partidos mais de direita (DEM e PSDB), quanto provocar uma possível reação por parte do de “centro” (PMDB) a consolidar em si mesmos uma “frente ampla” de oposição a candidata do PT? Lógico, nem PSDBistas nem Petistas a nível Distrital ou Federal querem “chacoalhar muito a canoinha” em vésperas de eleição!

A decisão a ser tomada amanhã então pelo Governo Federal de intervenção e designação de um Governador suplente para o Governo do Distrito Federal é a estratégia favorecida pelo grupo que está agora, por esse golpe, levando vantagem na politicagem. Mas é aqui também que entra o último elo que acorrenta esta forma de governar às mãos do Diabo - a sobreposição dos interesses empresariais junto aos burocráticos nesta “transição” orquestrada pelo Governo Federal.

Seja com Arruda, Paulo Otávio, Roriz ou algum Petista, a estrutura burocrática dos Governos (Distrital, Estaduais e Federal) foi moldada junto ao desenvolvimento do empresariado capitalista em nosso país, fosse este de caráter estatal ou privado, nacional ou transnacional, indivíduo ou corporativo. A derrubada de Arruda é um *golpe* no sentido mais limitado de transição política entre grupos de elite – a esmagadora maioria da participação popular no evento foi financiada e controlada pelos interesses das elites relacionadas – e o “desfecho” do golpe é apropriadamente jurídico em caráter, feito *em nome* da democracia (e não é, portanto, político no senso de envolver a atividade política da população, um evento democrático) e será completado por intervenção institucional do Governo Federal ao invés de uma resolução no mínimo nominalmente democrática como a via eleitoral.

Se há alguma mudança de força política entre as classes econômicas durante a transição (assim como se espera refletir na classe burocrática através da ação Federal amanhã), esta não é uma disputa de *governo*, mas de quem governa, ou em outras palavras, não é uma disputa política, de Estado, de forma de organização social, mas somente uma disputa de politicagem, de administração em benefício maior desses ou daqueles membros da mesma classe, mantendo a mesma estrutura de relações sociais.

O esperado para amanhã é o óbvio: a determinação de um Governador temporário da base governista do PT que buscará apoiar as candidaturas Petistas e aliadas nas eleições Distritais e Federais *mantendo* o apoio das alianças (mesmo que redesenhadas entre alguns de seus membros) das classes empresariais e burocráticas.

O simbolismo de Paulo Otávio não ter sido preso reflete o fracasso das classes trabalhadoras (incluindo, além dos trabalhadores nas redes privadas, os nossos poucos trabalhadores no campo, camponeses, assim como as classes urbanas ditas “médias”, numerosas no Distrito Federal, que atuam nos vários setores de serviços burocráticos dês da educação, saúde, polícia, até nos órgãos gestores dos Governos em si) de reconhecer seu interesse comum e tomar consciência de classe para assumir o controle do Governo e o desvincular do controle das classes empresarias e burocráticas – isto é, de destruir esta atual estrutura burocrática de governo (e de politicagem eleitoral) e reconstruir um novo modo de se governar.

A ação de Lula amanhã será considerada como uma vitória “do povo” Brasileiro, ou até mesmo “dos trabalhadores” Brasileiros, quando na verdade será somente a mais recente cooptação do que deveria ser a atividade das classes trabalhadoras de reconstruir um novo modo de se governar após a derrubada do Governo Arruda, pois tal será prevenida e travestida por uma ação burocrático-eleitoral com objetivos únicos de fortalecer a aliança burocrático-empresarial articulada em torno de um projeto de nacional-desenvolvimentismo capitalista tão sustentável quanto original – isto é, nem um nem outro.

Não há e não houve dentro da maioria dos órgãos de representação e ação de classe um debate sério sobre como executar uma reestruturação de poder dentro da oportunidade de crise política ocasionada pelo golpe. Se este não se iniciar e alastrar logo, perderemos até a oportunidade para aprender desta situação o que realmente é importante e nos preparar para os subseqüentes momentos de crise.

Atente a isto, pois esta é uma crucial falha nossa.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Me gustas tu

(de Manu Chao)

Me gustan los aviones, me gustas tu
Me gusta viajar, me gustas tu
Me gusta la mañana, me gustas tu
Me gusta el viento, me gustas tu
Me gusta soñar, me gustas tu
Me gusta la mar, me gustas tu

Que voy a hacer, je ne sais pas
Que voy a hacer, je ne sais plus
Que voy a hacer, je suis perdu
Que horas son, mi corazón

Me gusta la bike, me gustas tu
Me gusta correr, me gustas tu
Me gusta la lluvia, me gustas tu
Me gusta volver, me gustas tu
Me gusta marijuana, me gustas tu
Me gusta colombiana, me gustas tu
Me gusta la montaña, me gustas tu
Me gusta la noche

Que voy a hacer, je ne sais pas
Que voy a hacer, je ne sais plus
Que voy a hacer, je suis perdu
Que horas son, mi corazón

Me gusta la cena, me gustas tu
Me gusta la vecina, me gustas tu
Me gusta su cocina, me gustas tu
Me gusta camelar, me gustas tu
Me gusta la guitarra, me gustas tu
Me gusta el reggae, me gustas tu

Que voy a hacer, je ne sais pas
Que voy a hacer, je ne sais plus
Que voy a hacer, je suis perdu
Que horas son, mi corazón

Me gusta la canela, me gustas tu
Me gusta el fuego, me gustas tu
Me gusta menear, me gustas tu
Me gusta la Coruña, me gustas tu
Me gusta Malasaña, me gustas tu
Me gusta la castaña, me gustas tu
Me gusta Guatemala

Que voy a hacer, je ne sais pas
Que voy a hacer, je ne sais plus
Que voy a hacer, je suis perdu
Que horas son, mi corazón

Que voy a hacer, je ne sais pas...
Que voy a hacer, je ne sais plus...
Que voy a hacer, je suis perdu...
Que horas son, mi corazón...