quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Blitz

- Fuck,

exlcamei para mim mesmo enquanto colocava a seta para a direita, seguindo a indicação do policial para que parasse o carro. Já haviam outros dois parados, parei na frente destes, chuvia ralinho, o policial chegou pedindo minha habilitação e o documento do carro que eu não tinha – não tinha por que não verifiquei antes de pegar a estrada, e minha mãe, que tinha pego o carro emprestado de minha avó, não havia deixado o documento dentro do carro como faço de costume. Notou isso já quando estava horas ao sul de Brasília, e enviou Sedex 10 para BH. Atrasamos nossa saída até meio dia esperando o correio que não chegava. Desistimos e seguimos, afinal, já havia feito metade do caminho sem documento, faria a segunda do mesmo jeito, mas pelo menos mostraria as minhas amizades Ouro Preto – almoçamos um belo tutu a mineira e fejão tropeiro – e chegariamos ainda aquela noite em Petrópolis. Até aí tudo bem, e baixar a serra também foi tranquilo, tranquilo até demais, quando leva mais de duas horas para atravessar nove quilometros entre Magé e a porra da estrada entupida no sentido dos Lagos. Foi então, logo quando o transito seguia, a cinquenta kilometros de nosso destino, que fomos parados.

Expliquei a história, e antes mesmo que se encompridasse demais, o policial já me explicou

- Pó pará, pó pará, xeu te explicar a situação, é necessário ter o documento com você a todo momento, só isso já é pragente apreender o carro, mas o negócio é o seguinte, agente tá atrás de drogas e armas, então vamos ter que revistar seu carro.

Acordei, claro, com a revista, e ele foi logo entrando pela minha porta, quando saltei, remexendo no cinzeiro, depois pelo lado do passageiro, no porta luvas, no painel, em qualquer cantinho que pudesse meter os dedos. Logo, cheirou um pedacinho ou outro de tabaco dos cigarillos que havia fumado ao longo da estrada – cigarillos cubanos que ganhei de natal de meus pais – e mandou a passageira do banco de trás saltar também, e nos mandou pegar nossas bolsas para que fossem revistadas. Me mandou levantar minha camisa, já quando outro policial chegava por lá, e explicava a “situação”, meteu a mão nas minhas virilhas, e mandou eu e o meu passageiro homen entrar na estação. Notando que meu companheiro de viajem mal falava Português, me perguntou se eu falava, respondi, Claro, sou Brasileiro! Abriu a mochila dele e minha bolsa, cheirou meu canivete, fuxicou os livros dele, e quando chegou no meu saquinho com a caixa de cigarillos e um charuto, cheirou-os, olhou dentro da segunda fileira de cigarillos, enquanto isso um outro chegou também, denovo a “situação”, e denovo, o outro, verificou minha virilha – isso foi, aparentemente, sorte minha, pois este outro havia feito meu companheiro de viajem abaixar as calças, depois as samba-canção também, na tal busca – e este, sabendo então da “situação” com os documentos, exclamou

- Então temos que revistar eles muito mesmo!

Fuxicou denovo em minha bolsa, denovo mexeu com os cigarillos, duvidoso, e depois me mandou acompanha-lo para revistar, novamente, o carro. A chuva apertou, e ele me mandou entrar no banco de trás, enquanto ele entrava no do passageiro, fiquei, como antes, de olho em suas mãos e seus bolsos enquanto fuxicava, e enquanto ele fuxicava ia me dizendo

- Deixa eu te explicar a situação, Gustavo, é Gustavo, né?

Confirmei, enquanto ele pegava do banco um pedacinho de tabaco.

- O negócio é que tem indícios de drogas no seu carro, e vocês não estão cooperando. Agente vai revistar tudinho, tudinho mesmo. Agente vai fazer vocês abrir a mala do carro, vamos checar suas mochilas, roupa por roupa, cada bolso de cada calça, e se agente encontrar droga, você sabe o que acontece, né? Você vai preso, o carro fica apreendido, você tá até sem documento, então se agente fosse na dura mesmo, só nisso agente já apreendia o carro, sacou? E se vocês continuarem não cooperando, vai ser na dura mesmo...

...interrompi o sacana

- Mas nós estamos cooperando, estamos aceitando que revistem o carro, nossas mochilas, nossos...

Mas ele me cortou

- Deixa eu terminar! O negócio é o seguinte, se você fizer agente revistar tudo, se você der o trabalho de fazer agente ir buscar as drogas, ai vai ser na dura mesmo, aí não tem conversa – você vai preso mesmo. Agora, se você entregar as drogas pragente agora, aí dá pragente conversar, aí agente vê como que faz, dá pra dar um jeito.

Disse que o compreendia, mas que não tinhamos droga nenhuma. Disse que entregaria se tivessemos, mas não temos. Disse que poderiam revistar o carro todo, o porta malas, nossas mochilas, tudo.

Ai ele forçou a barra.

- Vocês estão fazendo as coisas difíceis pragente, aí não vai ter como ter conversa mesmo então. Você veio de onde? Brasília? Po cara, tem que ser muito estúpido para transportar drogas entre estados assim, né? Você não sabe das consequências não, hein? Não sabe que você vai preso?

Não havia espaço na trela dele para meu protesto que sabia das consequências mas que não estava, afinal, transportando droga alguma. Os “indícios de drogas” que ele dizia, tentei explicar, enquanto ele continuava, eram tabaco daqueles cigarillos, a única coisa fumada no carro, quatro cigarillos daquela caixinha que ele viu, que ganhei de natal de minha mãe.

A menção de minha mãe, talvez, ocasionou ele a perguntar de quem era o carro. Expliquei que era de minha avó, e que por isso não havia percebido que os documentos não estavam no carro quando saímos de Brasília.

- Mas você não sabe que tem que ter os documentos do carro sempre com você? Como é que você pega a estrada sem documento?

Pois é, foi lá a explicação denovo, sabia, mas quando percebi a falta já estava (e aqui estiquei a história uns duzentos quilometros) pra lá de Juiz de Fora e minha vó (ou mãe, pra ele isso não deve importar) já me mandou o documento lá pra Cabo Frio (pulando a confusão de BH pra fazer a história mais simples), aonde passariamos as férias de verão.

Por alguma razão, talvez a mesma pela qual ele parou o Renault da minha avó, ele quis saber

- O que sua vó faz lá em Brasília?

É aposentada, uai!

- Mas aposentada de quê?

- Bem...

tive que explicar

... na verdade ela trabalha em casa, meu avô que era aposentado.

A pergunta, em transição, era para ser respondida então sobre a profissão dele.

- Ele já faleceu, mas era Ministro do Superior Tribunal Militar.

Alguns anos atrás, quem sabe, isso seria suficiente para o reco dizer logo “ah, desculpe então, por favor siga viajem!” e até parava o transito para que eu saísse logo e recuperasse o indevido atraso. Hoje, não sabia se o efeito seria oposto ou semelhante...

O que se passou foi o seguinte, ele continuou fuxicando pelo banco da frente um momento, repetiu que haveria conversa se eu entregasse as drogas, e repeti que não haviam drogas, e que esperariamos o quanto eles quisessem para revistar todas nossas mochilas, todos os bolsos de todas as nossas calças.

Então ele saltou do carro, saltei atrás, ele entrou na estação, fiquei no lado de fora, embaixo da sacada, ao lado do carro, disse alguma palavra ou outra de calma para as duas companhias gringas de viajem, e logo depois aquele primeiro policial que me parou veio a porta, fumando um cigarro, e disse

- Ó, você vai presizar desse documento para voltar na estrada, hein! Por que se você pega um policial que está assim, teve um mal dia, tá de mal humor, ele leva na dura mesmo, apreende o carro.

Minha resposta já foi uma mistura de “entendo” e “obrigado”, pois, imaginava esperançosamente, seguirei viajem afinal!

Ele me perguntou se estava com minha habilitação, olhou pra dentro da estação para ver se estavam com meu documento por lá, saquei ela do bolso e disse que estava com ela e perguntei se estariamos, então, liberados.

A resposta positiva ainda foi temperada com outras advertências, mas nisso já me virava para minhas amizades e dizia

- Let’s get out of here, quick.

Entramos no carro, ligava o motor enquanto dizia para os dois verificarem seus documentos e seu dinheiro. Estavam com tudo, eu dava seta para a esquerda, e largamos deixando o folego escapar e as histórias do absurdo rolar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Traduzir-se

de Ferreira Gullar


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

domingo, 20 de dezembro de 2009

De volta para casa

Longos vôos de volta para Brasília, passando por Campo Grande e São Paulo... Logo que cheguei em solo nacional, curti uma bela xícara de café de verdade. Mimo que seja, é uma delícia de requinte que quase não existe nos frios e distantes Andes... Chegando em Brasília, me impressionei e gabei da panidiversidade de nossas padarias.

Dormi mais que doze horas... Tive um dia tranquilo em casa de descanso... Vimos fotos e desperdicei tempo online.

Dormi mais tantas horas... Tive outro dia tranquilo em casa com um churrasquinho, lendo ao lado da piscina, vendo mais fotos e mandando mais emails...

Escreverei mais quando retomar aventuras.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Santa Cruz, Bolivia Brasileira

Primeiro descansei bastante em Santa Cruz, num calor de vale de rio tropical sem saida para o mar... Lá faz calor, mas não tem brisa. Cheguei de avião, baixando a altitude rápidamente e cambiando drasticamente a pressão dentro da minha cabeça. Saí com meu ouvido infectado e destroçado. Uma cabeça de melão.

Li bastante Eça de Queirós na praça central, aonde muitíssimas pessoas convivem agradavelmente naquela sauna de cidade. Depois nos encontramos com dois mochileiros bem duros, que fazem e vendem braceletes para pagar sua comida de comedor de mercado e alojamiento de último nível, o contente Harvey de Colombia e outro Simon da Suiça, um padeiro hiponga da boa. Estes também buscavam couch surf com Carlos, um Cambazinho de 19 anos que estudou na Europa e admira fortemente esta sua cultura não-americana. Nos acolheu bem, nos levou a bolichar, e almoçamos em sua casa no dia seguinte. Interessante aprender as opiniões desta classe, estes que são literalmente sobrinhos do general Banzer. Sua tristeza não era a raça do presidente mas a incompetência de seus partidários que, contrário aos seus ideais, não foram devidamente educados em grandes centros acadêmicos europeus ou estadounidenses.

Mas disto se faz a Brasileirada de Santa Cruz, uns que se distinguem com orgulho dos indígenas do altiplano. Lá, minifundios de batata e quinoa mantem um campesinato nas margens da fome. Aqui, há cana e soja, a mesma que já infectava o Mato Grosso e tanto mais de nosso Brasil...

Santa Cruz é mais Brasileira também em sentir uma cidade larga, alastrada pela mata e sem nenhuma montanha no horizonte para limitar seu domínio. Santa Cruz é até cheia de Brasileiros de verdade, uma cidade que consegue fazer mais comércio e mais facilmente com nosso país do que com os povos de arriba monte.

Onde há latifúndio, há luta. E é lá nos entornos de Santa Cruz aonde lutam o MST-Bolivia, movimento joven que segue as práticas e estratégias de ocupação de terra do nosso MST. Tive a oportunidade, através de uns contatos da Via Campesina, de me encontrar com o Silvestre Saisari, um dos dirigentes do Movimento. Fizemos uma boa entrevista, e gostaria de socializa-la aqui em nosso país. As opiniões do pessoal que luta como nós mas que se mantem criticamente distantes dos aliados no governo são, em minha opinião, muito valiosas para nossa compreensão do que se passa e do que espera-se que passará agora com um governo MASista ainda mais forte do que antes. Oxalá que tenham vitórias, os co-Movimentistas, e oxalá que tenham um bom aliado no Palácio Quemado e na Assembléia Plurinacional.

Sucre y enfermedad

Do sal dos desertos ao calor das termas ao frio duma cidade a mais de 4 mil metros, em algum lugar neste difícil trecho de viagem adoecí... Cheguei sentindo-me fugido a Sucre, que se diz capital de uma Bolívia que não é nem Camba como Santa Cruz mas também ainda não é Colla como La Paz... Naquela primeira noite em Sucre já sentia tanta dor que não conseguia dormir após 3.30, liguei para os meus pais e entrei com Avalox. Não há Novalgina que aguente...

Sucre foi então curtamente sofrida, apesar de ser em geral uma cidade até boazinha, cheia de chocolaterias e pracinhas tranquilas. Vimos um lindo museu de arte indígena, isso sim valeu a pena, sendo que não estavamos com tempo ou disposição para quedar o suficiente na região e passar uns dias no campo. Um verdadeiro renacimento é proclamado e exposto na história dos últimos trinta anos quando artesãs começaram a receber apoio para seu trabalho através de uma ONG e grupos acadêmicos. Trabalho de tear como nunca havia visto antes - indescritível.

Também assistimos a um forte filme sobre trabalho infantil no Cerro Rico, que se passa até mesmo na exata mina em que estávamos dois dias antes em Potosí. Chama-se "The Devil's Miner" e recomendo para quem não terá logo a oportunidade de conhecer Potosí em pessoa. Pena que o documentário não demonstra a espessura do sofrimento, foca na vida de uma família, e assim perde de vista a pluralidade de mineiros embriagados pelas ruas assim que terminam sua mita diária ao Diabo.

Comemos, lavamos roupa, e comprei alguns regalos... Foi uma fraca despedida da companheira de viagem Élisabeth, estando doente, distraido, fraco, sem nenhum fogo de vida. Gostaria de mais tempo, enstando saudável, em Sucre. Há muito lá da história da independência. Mas, já quando saia de lá só queria casa, cama, os lábios cheios de uma mulher que pudesse cuidar de mim quando mal assim, um chazinho dos bons... Pensava, logo isso, logo aquilo, mas ainda faltava um pouco mais de Bolivia.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

The Southwest Corner

Depois de sair de La Paz pela última vez esta viajen, segui através de Oruro para tomar um tren até Uyuni, a base turística do cantinho sodoeste da Bolivia, nas margens do maior salar do mundo. Foi uma semana intensa de viajens e aventuras... pouco sono tranquilo e confortavel, nao durmi nunca no mesmo lugar duas vezes, e várias vezes só dormi em uma cama por parte de uma noite.

De Uyuni saimos em uma Land Cruiser guiados por Franz e sua irmä Lisele, eu, Eliza, Élisabeth (que haviamos conhecido no Peru), e tres novos amigos, o economista italiano engraçadíssimo Carlo, sua parceira de viajen alemä Laura, e outro amigo chucrute Friedrich 'Frederico,' um psicólogo de negócios que acredita em Econ101 e no 'mercado livre' fielmente. As vezes o interessante de mochilar pelo mundo é se relacionar (até bem) com pessoas com as quais normalmente nunca dariamos um minuto de nosso dia.

No primeiro dia visitamos o salar, almoçando em uma de suas lindas ilhas cobertas de cactus milenares. Assistimos o por do sol do salar, vendo as cores dançarem em volta de montanhas e vulcöes ao redor da imensidäo branca. Naquela noite, dormimos em um incrível hotel de sal nas margens do salar... o chäo era de sal grosso, as paredes de blocos de sal, assim como as mesas, cadeiras, até as camas (menos o colchäo, claro). Coisa estranha... Mas quase que faz sentido. Quase.

O segundo 'dia' começou antes do alvoreçer, para ver o tal já do meio do deserto de sal. Isso sim foi magnífico. O clarear do horizonte logo já irradiava tudo como se fosse meio dia, antes mesmo do sol se fortalecer suficientemente para atravesar as nuvens do horizonte. E quando os raios finalmente quebraram as nuvens, todas as cores floreciam nas montanhas, nas nuvens, no mundo inteiro.

Seguimos do deserto de sal por desertos de pedras e areias e arbustinhos e cactus tao pequenos que pareciam uma plumagen nas encostas dos Andes, vimos várias lagoas de cores e minerais diferentes, varias formaçöes vulcanicas espetaculares, e eventualmente paramos em um refúgio para dormir as margens da Laguna Colorada, vermelha como só o sangue de uma mártir! Infelizmente, este por do sol eu näo ví por estar me recuperando de alguma enfermedad de viajero... (vomitei bastante ao lado da famosa Árvore de Pedra...) Mas aquela noite encontramos gente incrível no refúgio: Javier e Asa, um casal que está aventurando de bicicleta do Panamá ao Uchuaia, fazendo parte de um documentário sobre mudanças climáticas que chamará Going South. Ele é um engenheiro florestal formado no Brasil, entäo conversamos muito sobre desmatamento, especialmente sobre o cerrado, reforma agrária, e política Sul Americana.

O terceiro dia também iniciou as 4 da manhä, vimos o sol nascer nos gêisers que incendeiam o deserto - é lindo como em Yellowstone, mesmo que sejam menores, mas é ainda mais excitante por poder caminhar por entre os olhos de lama e minerais ferventes, desaparecer-se em meio as fumaças de enxofre, e buscar o sol nascente e a lua poente por entre esse labirinto que parece de outro planeta.

De lá, passando por mais desertos e vulcöes e lagoas, eventualmente fomos desayunar, descansar e retomar nossas forças em uma nascente de água quente. Que paz. De lá, horas em uma sacudida e arduosa estrada de volta pra Uyuni, parando só para almoçar e visitar o pequeno povoado de San Cristóbal.

Este povoado predominantemente indígena se baixou do cerro para crescer com a indústria mineiradora de lá, mas sua famosa igreja de pedra estava fechada agora para forasteiros porque sofreram um roubo de toda sua prataria (inclusive o cajado que säo Cristóbal segurava, que teve seus dedos quebrados no crime). A comunidade disse näo haver roubos antes, quando tal crime era punido com morte na tradiçäo andina, mas agora com a mineraçäo e o crescimento do povoado e a entrada de gente de outras comunidades pelo trabalho nas minas, tudo está mudando.... ainda assim tem seus caciques, eleitos anualmente, sua justiça comunitária, seu sincretismo de orar em um grande altar de pedra após sair da festa na igreja, e uma alma santa que nos recebeu por lá e nos contou muito de sua comunidade mantinha um forte argumento por esse indigenismo. Gostaria de poder ter ficado mais tempo aprendendo com ele sobre sua comunidade, mas logo seguimos sacudindo pela estrada...

De Uyuni foi uma contínua sacudiçäo de ônibus para Potosí, e uma chegada menos que calorosa as 3 da manhä. Ao acordar, no sábado, a única opçäo de conhecer as minas que fizeram a colonizaçäo espanhola e mudaram a economia Europeia era de seguir direto para o Cerro Rico, e quando voltamos a cidade de Potosí já fechava em sí mesma num estupor bêbado de fim de semana de mineiros e mulheres sofridas.

Mas as minas... você tem que entrar nas entranhas daquela montanha de séculos de exploraçäo para poder sentir o que realmente se passou e ainda se passa por lá... A Presença do diabo näo é meramente alegórica, nem muito menos turística. A gringaiada que ignore esta verdade e a trate como um tour. Mas que todo, todo es mentira neste mundo. Todo es mentira, la verdad. As minas ''cooperativas'' escondem o sofrimento e egoísmo e medo e desgosto pela vida aos quais os mineiros foram sujeitos des da época dos aventureiros espanhóis, e agora seguem ciegos siempre siempre ciegos, se colonizando e se escravizando pela pouca prata que ainda sangra daquela montanha.

Saindo na próxima manhä com uma breve mirada na Casa de la Moeda, vimos a prisäo sobre-terrânea que os espanhóis fizeram construir para trazer a prata e o diabo da montanha para o resto do mundo, e estampar nisso tudo as caras dos reis espanhóis e imperadores alemäes. Nada era Boliviano se näo o sofrimento e o trabalho - e ainda hoje, suas moedas mesmas que usamos aqui para pagar as Salteñas (coisas que, mesmo quando säo daqui, fingem serem de Salta) näo säo feitas em território nacional... algumas vem do Chile, outras do Canadá, as notas da Europa... Isso é um país proletário, que näo é nem dono nem produtor de suas próprias ferramentas, seus trens vem de Pittsburg, suas maquinas editoras de Nova Iorque, seus ônibus säo segunda mäo do Japäo e do Brasil...

Potosí é sofrida, colonial, difícil... Logo saímos de lá para Sucre. Sucre é a pobre riqueza que explora a própria irmä mais velha, mas menor e envergada pelo trabalho forçado...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Evo de nuevo!

Evo Morales e Álvaro García Linera foram reeleitos com mais de 60% dos votos e o Movimiento Al Socialismo ganhou dois terços da Assembléia Parlamentar. Esta é uma vitória ainda maior que as de 2005 e da Assembléia Constituinte, e as expectativas para este segundo governo säo igualmente maiores. Se espera que os bloques e 'compromises' do primeiro governo, quando o MAS näo controlava o Senado, que tinha que aprovar toda legislaçäo do Congresso, e também na Assembléia Constituinte, agora cederäo para a implementaçäo completa da política MASista. Esta agora é a maior oportunidade para reconstruir o Estado Boliviano e o socialismo Latinoamericano.

Evo Morales and Álvaro García Linera were reelected with more than 60% of the vote and the Movimiento Al Socialismo won two thirds of Congress. This is an even greater victory than in 2005 and the Constitutional Assembly, and the expectations for this second term are equally higher. The blocks and compromises of the first term, when MAS did not control the Senate, which had to approve all legislation from Congress, and also in the Constitutional Assembly, are now expected to give way to the full implementation of the MASista agenda. This now is the greatest opportunity to reconstruct the Bolivian State and Latin American socialism.

Houve uma grande festa na Plaza Murillo... Conhecí muita gente boa. Dançamos nas ruas até a polícia fechar a praça. Foi um evento lindo.

There was a great party at Plaza Murillo... I met many good people. We danced in the streets until the police closed the square. It was a beautiful event.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Time to think....

Today almost everything shuts down in Bolivia for the elections. No public transport, and supposedly only cars with special permits can circulate. Hence, I have more quiet time to think, to sit online, and to write to you...

One thing that has been predominantly on my mind is how difficult I find it to escape my middle-class habits... I feel far more comfortable in wealthier parts of town, and in wealthier countries in general. I recognize that I will not commit class suicide, and with this comes an uneasy understanding that I will also have to juggle blindly my privileges.... potable tap water, for example, an amazing privilege I just can't let go very easily when considering a place to raise my future family.

But in general there is a deeper sadness when I consider the cultural differences between me and most of those around me.... waiting in line, for example, to buy bus tickets, to get information at a kiosk, or anything, is a practice which I undertake naturally but which also seems wholy alien to people around me. I cannot expect to be attended when I am 'waiting in line' since the attendants themselves don't even recognize that there is (or would be) a line!! Add to this a whole list of other differences... here are some noted in Church this morning: dogs being taken through a stroll, cell phones ringing, an armed policeman...

My habitual reaction is to declaim the lack of respect - my reaction is to consider my exogeneity and ignorance - the result is my sad confusion....

In some ways, when I am lied to, when I am left to undergo discomforts that any would feel, when I understand how the chaos makes life more difficult for most involved... I simply stomp my feet and damn the falta de educaçäo, the lack of 'education' in the cultural sense, not the formal academic sense.

On the other hand, the discomforts are still my own, from my own contrast of experience and expectation. Take this example:

When traveling from La Paz to Cochabamba on a daytime bus, we stopped for lunch at a road junction. Our bus supposedly had a bathroom in it, but it was piled up with buckets and clearly out of order. I tried to talk to one of the three agency representatives who travelled with us on the bus, I asked him why those things were in the bathroom and why we couldnt use it. Well, we were stopped, and I clearly could have used the bathroom at the restaurant, and the young man was clearly angry with my questions. His anger expressed itself, inclusively, in speaking so quickly and with such slangs and hard accent that I was sure not to understand him. It felt like being barked at.

The problem for me wasn't so much that there was no functional bathroom, but that I was told there would be one. An untruth that may not have been intentional on the part of the agent who sold me the ticket, since he couldn't know the status of the bus, and tells the situation as it is supposed to be, whether or not the actual state of the buses conform to that. In addition, the bother for me was the complete disrespect the bus agent at the stop willingly expressed to me. There was no attempt to patch up an un-service... in fact, there is no concept of customer service. There is what you get, and complaints are never welcome. In fact, complaints are seen as a disrespect on the customer's part. Perhaps by expecting and complaining about that situation I was asserting an inferiority of their expected and regular state. Hence my deserved being-barked-at, which can only make sense like this, as an after thought of my own, which may not even occur in the mind of he who barked... for him, perhaps, I was just another offensive gringo.

If I could vote today I could come face to face with this dilemma: the ideological choice I would like to make would mean having my white urban privileges confronted directly. Yet, what I have is the inevitable blind oppression: even seeking out the comfort I (thought I) paid for in a trip is an act that reasserts a class and race structure that continues to oppress an impoverished majority... There aint no ballot box there, and there isnt any action I can take that would easily shed my expectations of 'proper manners' that any people should have.

This is more than the differences of culture easily explained such as "forks or chopsticks". Those who use forks and knife at a table might consider it barbaric to suck your noodles or rice from a bowl... Those who use chopsticks might consider it barbaric to butcher one's food on one's own plate... But both can recognize the "civilizing" intention behind it all.

Contrast that with the talking loudly in museums, getting in front of each other and never considering lines, hacking on the sidewalks, doorsteps, and even inside buildings, and generally just honking one's way about town as though there were no lanes, no lights, and as though it were the case that cars in front of you could magically disappear at the sound of one's horn...

Where is the civilizing intent in that?

And fuck that charge against "civilization" made by Daniel Quinn.... Blame industrial society, blame bureaucracy... but there still seems to be a wiiiiide gap between all of that an a set of social manners that express recognition and respect for the other.

There is either a disconsideration of what "the good life" (Vivir Bien) would entail, eg., stepping on other people's hacked luggies must be "just fine and dandy", or worse, there must be a simple disregard for the other - a selfishness, an egoism that is sin in any culture, religion, time or place. That is the disrespect I fear plagues so much of our world...

Now, lest I be misunderstood, I am not leaning back towards those arguments that "the underdeveloped are so because of their own problematic cultures". I would sooner think these cultural problems of poor social habits are a result of political and economic situations that constitute the so called "underdeveloped" as the other side of the coin of "development for some". Yet, of course, this doesn't excuse the mal-educados (the ill-mannered) from their responsibility for improving social habits. This also doesn't mean that improving social habits can solve political and economic problems... Nor does it mean that only political and economic "solutions" can affect these social habits. Call it "dialectic" and give it an -ism if you would like, but the point is that in real life things are complicated, families raise their young, and political and economic changes affect the context in which this takes place... There is little that can be done outside of raising one's own young, and dealing as lovingly as we can with our peers... be it to reprimand them when they need to be shown back to the narrower path of recognizing-the-other, or be it to follow them ourselves on that path when as we try to stumble alongside it...

Enough rambling for now... later I will write about the events of today's election.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Aprendendo...

Hoje tive um bom dia. Soube preparar minha viajen de Cochabamba de volta para La Paz. Saí tranquilo após um delicioso jantar com amigos de lá, Daniel que nos hospedou, sua parceira Hannah and roommate Josepha, e a parceira de viajen que deixei por lá, Eliza. Também foi bom e aproveitei a amizade de Rodrigo antes de voltar... buena onda!

Dormi bem na estrada, e mal posso descrever a beleza do nascer do sol junto a cordilheira!!! Quando radiava o lado do Illimani, que brilho divino! O nascer do sol transluzia por uma grande imagen do Sagrado Coraçäo em um pano fino na frente do onibus.

Cheguei, busquei hospedagen cerco ao centro, me alojei e fui atrás de passagens de tren para Uyuni. Quem tem boca vai a roma, mesmo que rode pela cidade até chegar... rodei pela estaçao central, baixei o Prado, e cheguei a uma oficinia fechada até segunda, já no confortável Sapocachi. Bem, até lá, curto La Paz.

Comi salteñas com jugo de durazno na plaza Avaroa. Que paz, que nao sabia havia em La Paz. Terei uma cozinha para usar esse fim de semana. Logo, terei novamente amizades de viajen e aventuras ao sul. Logo, também, conto mais daqui, das eleiçoes... com tempo, até escrevo em inglês.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

La Piramide e além!

Hoy fiz uma puta caminhada nas montañas ao norte de Cochambamba. Acordei cedo com o irmäo de Daniel, chamado Rodrigo, com quem estamos quedando de couch surf aqui em Cochabamba. Seu pai nos levou até a beira da cidade, já quase uns 3 mil metros, e seguimos subindo por várias horas mais.

Quando chegavamos já ao pé da tal montaña llamada el Piramide, já nao sabia se teria folego para subir toda... mas seguimos, chegamos ao topo, e de lá ví um outro pico, com uma rocha arrendondada, que seguia mais além da piramide. Descansamos um pouco neste primeiro pico e descidimos continuar até o próximo.... Logo que continuamos percebi que havia um terceiro pico entre a piramide e este outro arrendondado... Mascando coca, tomando agua e bolachas nos picos, seguimos de um para o outro, e depois o outro... escalamos as rochas to pico arrendondado, já a uns 4 mil metros fácil, e decidimos näo baixar ainda mas continuar...

Havia de lá mais três picos, seguindo do oeste à leste. Da piramide seguiamos direito ao pico do meio entre estes mais altos, e pensávamos baixar depois deste... subimos este outro pico, do qual já näo se vê mais da cidade de Cochabamba, escondido atrás da piramide... Chegamos ao topo, e nossa ruta planeada para bajar já se tornava täo íngreme que näo se podia descer... Duas alternativas: voltar por onde viemos, ou seguir deste pico para o outro a mais de 5 mil metros através das rochas que os ligavam, fazendo um crest da codilheira.

Chegamos ao segundo pico, e lá nos quedamos mais um tempo.... putz, que lindo é estar lá. Fotos nao foram tiradas, e bem por que nenhumas fotos poderiam realmente capturar a beleza daquele lugar, a altura em que estávamos, e a emoçao de ter subido tanto já em só umas 4 ou 5 horas. É uma experiência única que deve ser vivida pessoalmente para realmente poder aprecia-la.

Já depois começamos a descer do segundo pico para um passe, e de lá pelo braço leste do vale, oposto ao que tinhamos subido, contornando várias lagoas e riachos e cachoerinhas de montanha bellísimas! Bajamos forte até la laguna Wara Wara, wara significando ''vento'' em Quechua, e o lugar fazendo jús a seu nome. Lá tomamos nosso almoço, e sacamos que deviamos continuar a descer em um passo mais forçado, pois ainda haviam uns 10 kilometros para voltar, e já era entäo umas 4 horas...

Mas pra descer todo Santo ajuda, e foi fácil. Tomamos quase que uma linha reta, cortando a carretera que descia do lago, e cruzando até várias vezes la senda que bajava por dentro de las curvas de la carretera. Já cerco de las 6 y media, bajavamos hastá lo começo de la ciuidad... llegamos a las 6.45, y tomamos un taxi colectivo hasta lo valle de la ciudad...

Ducha, descanso, y depois um bom burrito alá fajitas, con mucha chela y alegria. Rodrigo dormiu des de que voltamos, e já nos buscou quando já tarde tinahmos saído, mas Daniel e Eliza me acompanharam, e encontramos alguns outros amigos depois do juego de Bolívar con un equipo cruçeño. Bolívar gaño dos a uno, e provabelmiente vá a gañar el campeonato nacional en los próximos juegos de la final. (Juegavan en Cochabamba por que havian empatado ya en los últimos dos juegos en La Paz y Santa Cruz).

Agora estou morto de cansado... foi um lindo dia. Estas montanhas säo as mais belas que tenho visto des das Rochosas no Colorado e Wyoming... Realmente incríveis. E a experiência de subi-las é até mais emocionante, pois näo levavamos os tradicionais equipamentos Coloradenses como mapa com altitudes, tarps, e first aid kits de medicamentos Europeus... ao invés levavamos o basico Andino: muita coca, agua, galletas, solo un abrigo cada, um canivete, päo y sardina. Nao há los guardaparques y no há rutas ciertas... solo se sube y baja por donde se puede, so no las carreteras y una senda en el final.

Pois mira, além da piramide, já nao se via nem ouvia a cidade... Já estavamos acima da tree line, já seguiamos nas supra-renais e coca mais que nas próprias pernas... Já miravamos abajo como condores, e já com aquela rocky mountain high de querer chegar ao próximo pico e querer subir ainda um pouco mais, e um pouco mais...!

E isso tudo gracias a el couch surfing. Realmente é o melhor modo de se viajar.

Ahora para los gringos que no compreenden nada de nuestras lenguas... pô, tem que se virar as vezes, né¿!

The mountains north of Cochambamba, in the Tunari National Park, are abso¡fucking!lutely gorgeous. It is an amazing challenge to hit 4 thousand meters and keep going, and it is amazingly ecstatic to bag not only one 5k+ peak, but from there to another right on the same stretch!!! Then down a mountain pass over a delicious cold cold Andean lake, and a straight line down along the opposite arm of the valley we went around. Reward: good food, local brew, and a priceless experience. Amen.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Cochabamba

A estrada de La Paz para Cochabamba é relativamente boa... plana, através do planalto seco do noroeste boliviano, depois que a estrada separa-se do caminho para Oruro começa a atravessar uma serra, muitas montanhas marrons, mais baixas que no Peru, e depois de muito sobe roda e desce, chega-se ao vale aonde se esparraaaaama a cidade de Cochabamba.

Mas, de estilo especialmente nosso, o fato do ônibus ''ter'' um banheiro a bordo näo quer dizer que este näo tenha ''acabado''... haviam vários baldes entulhados no banheiro, que aparentemente näo funcionava... umas 8 horas de viajem, com várias paradas no caminho aonde näo se tem a oportunidade de descer para usar o banheiro, e uma curtíssima de 15 minutos para almoçar, de onde o ônibus vai saindo sem nem verificar se todos estäo abordo! Putz... é foda quando neste paísinho metade do que se como e bebe dá diarréia...

Mas amanhä seremos recebidos por um couch surfer daqui, quem sabe descansados e mais animados possamos vir a curtir esta outra louca cidade boliviana! Amen!

And now for all yall gringos...

Cochabamba is a sprawling city at a valley that takes a loooong time to wind down after crossing several mountains on the way from La Paz. The mountains aren't as tall or as beautiful as in Peru, and the first half of the trip is across the dry brown bolivian plateau... Mind: just because the bus company says there are bathrooms, doesnt mean those work. and that matters when you are in an 8hour trip, and with a bad stmoach....

shiiiit

write more soon