terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Carnaval a candanga

Pra lá de Formosa, saindo à direita ao lado de uma padaria na comunidade de Bezerra, entra-se numas estradas de chão que passam pelo meio de algumas fazendas e fazendinhas e chegam (pegando o caminho certo) em uma nascente chamada Poço Azul. O cerrado ainda vive verde forte nas encostas das chapadinhas ao norte, e muita água desce de uns morrinhos ao sul, enchendo o que agora é pasto de buritis solteiros, e em algum lugar ali no meio, ao lado de um paredão de pedra e escondido embaixo de grossas árvores fechadas entre si por mato e cipó, brota do chão uma água fresquinha e – normalmente – completamente transparente.

Mas era carnaval, e até chegarmos lá uma grande família com toda sua molecada já estava saindo da nascente, deixando pra traz a água removida com areia das bordas nevoando a nascente todinha… Há uma grande árvore caída que atravessa o poço da nascente, uma ponte natural que facilita entrar no poço sem remexer a areia nas bordas, de lá podendo mergulhar diretamente no miolo azul sem macular sua transparência. Nadamos e ficamos como tartarugas no tronco, batendo papo e esperando a nascente clarear.

E assim fizemos até, algumas poucas horas depois, outro grupinho como aquele chegar. Decidimos seguir então, de volta para a estrada e mais além de Bezerra, até umas pamonharias, aonde complementamos nossos lanches de biscoitos e frutas com, claro, pamonhas e cerveja. Lá recebemos informações de como chegar a um sítio arqueológico na região, chamada Bisnal, e conhecido por lá como a “pedra escrivida”, e depois seguir para uma cachoeira ali perto. O conhecimento da região é incrível para quem está acostumado a passar por inumeráveis “regiões” sem nunca imaginar toda essa história e essa beleza natural por todos os lados. Atrás das pamonharias e de uma fazendinha (passe três mata-burros, vire a esquerda, se a cancela ao lado do riacho estiver aberta é só seguir, passe mais três cancelas e) lá está uma grande chapa de rocha preta, inclinada ao pé de uma encosta, com desenhos entalhados que só poderiam ser obra da mão humana. Círculos e linhas em padrões que lembram mapas de bacias hidrográficas ou constelações e marcas que parecem para relógios de sol se espalham por dezenas de metros sobre toda a rocha. O sol forte enche de calor a rocha negra aos pés e os olhos de luz no descampado desta encosta de cerradão. Ficamos nos perguntando que civilização fez isso, como, quando e por que.

Levamos nossos pensamentos para ficar de molho na cachoeira, dentro de uma fazendinha que até construiu um banheirinho lá ao lado do topo da queda, aonde poderíamos ir de até carro e seria fácil levar a tranqueira toda para fazer churrasco. Mas já era o meio da tarde e não sentíamos fôlego de comer nada que não fosse fruta e água fresca da mão pra boca, muito menos de escalar a cachoeira até seu poço, muitas dezenas de metros abaixo. Um abraço de água aos ombros na primeira quedinha, um poço embaixo duma outra quedinha que borbulha e contorce a água para dentro de si igual a uma banheira de massagem, e se estirar nas pedras entre as águas que vão se esticando e tomando velocidade em direção aos saltos um pouco mais além… tudo isso dentro da sombra fresca que circunda o riacho e desacostuma os olhos com o sol forte que ainda batia no morro ao leste, subindo quase como uma montanha por detrás do vale no qual a cachoeira se atirava.

Ficamos até o sol ficar abaixo da vontade de voltar, chegamos de volta nas cidades já escurecendo, comemos umas pizzas, tomamos banho, e assim fechamos uma boa segunda feira de carnaval.

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