sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Santa Cruz, Bolivia Brasileira

Primeiro descansei bastante em Santa Cruz, num calor de vale de rio tropical sem saida para o mar... Lá faz calor, mas não tem brisa. Cheguei de avião, baixando a altitude rápidamente e cambiando drasticamente a pressão dentro da minha cabeça. Saí com meu ouvido infectado e destroçado. Uma cabeça de melão.

Li bastante Eça de Queirós na praça central, aonde muitíssimas pessoas convivem agradavelmente naquela sauna de cidade. Depois nos encontramos com dois mochileiros bem duros, que fazem e vendem braceletes para pagar sua comida de comedor de mercado e alojamiento de último nível, o contente Harvey de Colombia e outro Simon da Suiça, um padeiro hiponga da boa. Estes também buscavam couch surf com Carlos, um Cambazinho de 19 anos que estudou na Europa e admira fortemente esta sua cultura não-americana. Nos acolheu bem, nos levou a bolichar, e almoçamos em sua casa no dia seguinte. Interessante aprender as opiniões desta classe, estes que são literalmente sobrinhos do general Banzer. Sua tristeza não era a raça do presidente mas a incompetência de seus partidários que, contrário aos seus ideais, não foram devidamente educados em grandes centros acadêmicos europeus ou estadounidenses.

Mas disto se faz a Brasileirada de Santa Cruz, uns que se distinguem com orgulho dos indígenas do altiplano. Lá, minifundios de batata e quinoa mantem um campesinato nas margens da fome. Aqui, há cana e soja, a mesma que já infectava o Mato Grosso e tanto mais de nosso Brasil...

Santa Cruz é mais Brasileira também em sentir uma cidade larga, alastrada pela mata e sem nenhuma montanha no horizonte para limitar seu domínio. Santa Cruz é até cheia de Brasileiros de verdade, uma cidade que consegue fazer mais comércio e mais facilmente com nosso país do que com os povos de arriba monte.

Onde há latifúndio, há luta. E é lá nos entornos de Santa Cruz aonde lutam o MST-Bolivia, movimento joven que segue as práticas e estratégias de ocupação de terra do nosso MST. Tive a oportunidade, através de uns contatos da Via Campesina, de me encontrar com o Silvestre Saisari, um dos dirigentes do Movimento. Fizemos uma boa entrevista, e gostaria de socializa-la aqui em nosso país. As opiniões do pessoal que luta como nós mas que se mantem criticamente distantes dos aliados no governo são, em minha opinião, muito valiosas para nossa compreensão do que se passa e do que espera-se que passará agora com um governo MASista ainda mais forte do que antes. Oxalá que tenham vitórias, os co-Movimentistas, e oxalá que tenham um bom aliado no Palácio Quemado e na Assembléia Plurinacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário