segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

The Southwest Corner

Depois de sair de La Paz pela última vez esta viajen, segui através de Oruro para tomar um tren até Uyuni, a base turística do cantinho sodoeste da Bolivia, nas margens do maior salar do mundo. Foi uma semana intensa de viajens e aventuras... pouco sono tranquilo e confortavel, nao durmi nunca no mesmo lugar duas vezes, e várias vezes só dormi em uma cama por parte de uma noite.

De Uyuni saimos em uma Land Cruiser guiados por Franz e sua irmä Lisele, eu, Eliza, Élisabeth (que haviamos conhecido no Peru), e tres novos amigos, o economista italiano engraçadíssimo Carlo, sua parceira de viajen alemä Laura, e outro amigo chucrute Friedrich 'Frederico,' um psicólogo de negócios que acredita em Econ101 e no 'mercado livre' fielmente. As vezes o interessante de mochilar pelo mundo é se relacionar (até bem) com pessoas com as quais normalmente nunca dariamos um minuto de nosso dia.

No primeiro dia visitamos o salar, almoçando em uma de suas lindas ilhas cobertas de cactus milenares. Assistimos o por do sol do salar, vendo as cores dançarem em volta de montanhas e vulcöes ao redor da imensidäo branca. Naquela noite, dormimos em um incrível hotel de sal nas margens do salar... o chäo era de sal grosso, as paredes de blocos de sal, assim como as mesas, cadeiras, até as camas (menos o colchäo, claro). Coisa estranha... Mas quase que faz sentido. Quase.

O segundo 'dia' começou antes do alvoreçer, para ver o tal já do meio do deserto de sal. Isso sim foi magnífico. O clarear do horizonte logo já irradiava tudo como se fosse meio dia, antes mesmo do sol se fortalecer suficientemente para atravesar as nuvens do horizonte. E quando os raios finalmente quebraram as nuvens, todas as cores floreciam nas montanhas, nas nuvens, no mundo inteiro.

Seguimos do deserto de sal por desertos de pedras e areias e arbustinhos e cactus tao pequenos que pareciam uma plumagen nas encostas dos Andes, vimos várias lagoas de cores e minerais diferentes, varias formaçöes vulcanicas espetaculares, e eventualmente paramos em um refúgio para dormir as margens da Laguna Colorada, vermelha como só o sangue de uma mártir! Infelizmente, este por do sol eu näo ví por estar me recuperando de alguma enfermedad de viajero... (vomitei bastante ao lado da famosa Árvore de Pedra...) Mas aquela noite encontramos gente incrível no refúgio: Javier e Asa, um casal que está aventurando de bicicleta do Panamá ao Uchuaia, fazendo parte de um documentário sobre mudanças climáticas que chamará Going South. Ele é um engenheiro florestal formado no Brasil, entäo conversamos muito sobre desmatamento, especialmente sobre o cerrado, reforma agrária, e política Sul Americana.

O terceiro dia também iniciou as 4 da manhä, vimos o sol nascer nos gêisers que incendeiam o deserto - é lindo como em Yellowstone, mesmo que sejam menores, mas é ainda mais excitante por poder caminhar por entre os olhos de lama e minerais ferventes, desaparecer-se em meio as fumaças de enxofre, e buscar o sol nascente e a lua poente por entre esse labirinto que parece de outro planeta.

De lá, passando por mais desertos e vulcöes e lagoas, eventualmente fomos desayunar, descansar e retomar nossas forças em uma nascente de água quente. Que paz. De lá, horas em uma sacudida e arduosa estrada de volta pra Uyuni, parando só para almoçar e visitar o pequeno povoado de San Cristóbal.

Este povoado predominantemente indígena se baixou do cerro para crescer com a indústria mineiradora de lá, mas sua famosa igreja de pedra estava fechada agora para forasteiros porque sofreram um roubo de toda sua prataria (inclusive o cajado que säo Cristóbal segurava, que teve seus dedos quebrados no crime). A comunidade disse näo haver roubos antes, quando tal crime era punido com morte na tradiçäo andina, mas agora com a mineraçäo e o crescimento do povoado e a entrada de gente de outras comunidades pelo trabalho nas minas, tudo está mudando.... ainda assim tem seus caciques, eleitos anualmente, sua justiça comunitária, seu sincretismo de orar em um grande altar de pedra após sair da festa na igreja, e uma alma santa que nos recebeu por lá e nos contou muito de sua comunidade mantinha um forte argumento por esse indigenismo. Gostaria de poder ter ficado mais tempo aprendendo com ele sobre sua comunidade, mas logo seguimos sacudindo pela estrada...

De Uyuni foi uma contínua sacudiçäo de ônibus para Potosí, e uma chegada menos que calorosa as 3 da manhä. Ao acordar, no sábado, a única opçäo de conhecer as minas que fizeram a colonizaçäo espanhola e mudaram a economia Europeia era de seguir direto para o Cerro Rico, e quando voltamos a cidade de Potosí já fechava em sí mesma num estupor bêbado de fim de semana de mineiros e mulheres sofridas.

Mas as minas... você tem que entrar nas entranhas daquela montanha de séculos de exploraçäo para poder sentir o que realmente se passou e ainda se passa por lá... A Presença do diabo näo é meramente alegórica, nem muito menos turística. A gringaiada que ignore esta verdade e a trate como um tour. Mas que todo, todo es mentira neste mundo. Todo es mentira, la verdad. As minas ''cooperativas'' escondem o sofrimento e egoísmo e medo e desgosto pela vida aos quais os mineiros foram sujeitos des da época dos aventureiros espanhóis, e agora seguem ciegos siempre siempre ciegos, se colonizando e se escravizando pela pouca prata que ainda sangra daquela montanha.

Saindo na próxima manhä com uma breve mirada na Casa de la Moeda, vimos a prisäo sobre-terrânea que os espanhóis fizeram construir para trazer a prata e o diabo da montanha para o resto do mundo, e estampar nisso tudo as caras dos reis espanhóis e imperadores alemäes. Nada era Boliviano se näo o sofrimento e o trabalho - e ainda hoje, suas moedas mesmas que usamos aqui para pagar as Salteñas (coisas que, mesmo quando säo daqui, fingem serem de Salta) näo säo feitas em território nacional... algumas vem do Chile, outras do Canadá, as notas da Europa... Isso é um país proletário, que näo é nem dono nem produtor de suas próprias ferramentas, seus trens vem de Pittsburg, suas maquinas editoras de Nova Iorque, seus ônibus säo segunda mäo do Japäo e do Brasil...

Potosí é sofrida, colonial, difícil... Logo saímos de lá para Sucre. Sucre é a pobre riqueza que explora a própria irmä mais velha, mas menor e envergada pelo trabalho forçado...

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